domingo, 20 de julho de 2008

Guitar Hero: jogo versus realidade



A idéia para essa seqüência de textos sobre o gênero de jogos surgiu de diálogos, dúvidas e críticas dos próprios integrantes do grupo Benzaiten a respeito do jogo Guitar Hero e não será baseada em nenhuma bibliografia ou pesquisa anterior. Apresentarei questionamentos, suposições e opiniões baseadas em experiências pessoais e ilustradas por uma rápida entrevista feita com o guitarrista Márcio Sanches*. A finalidade do texto é promover diálogos e reflexões acerca do assunto.

Iniciarei a série falando um pouco dessa modalidade de jogo. Apesar do Guitar Hero ser a motivação da postagem, vários são os jogos similares a esse. Falarei melhor deles numa próxima matéria. Alguns sites em inglês citam o gênero como sendo music game (jogo musical), skill game (jogo de habilidade) ou rythm game (jogo de ritmo). Enfim, é um jogo no qual – como em vários outros – é necessária habilidade manual e velocidade para se conseguir cada vez mais pontos. A grande diferença em questão é que, toda essa habilidade manual interage diretamente com a habilidade musical. Chamo de habilidade musical aquela que torna o indivíduo capaz de compreender e controlar ritmos, melodias e harmonias, além de simplesmente seqüências de cores e botões.

Nessa primeira postagem da seqüência, falarei sobre semelhanças e diferenças entre a prática na guitarra real e a prática no jogo. Para complementar o texto, busquei as opiniões do músico Márcio Sanches, ligado mais à prática instrumental e à educação do que ao jogo. Nas palavras do próprio Márcio: “Tenho um Playstation 2 e ainda não joguei nenhum destes jogos [Guitar Hero, Rock Band e Frets on Fire]. Quero ficar de fora e ver os frutos dos alunos sem ter interferência direta jogando”. Sua opinião a respeito da trilha sonora dos jogos é: “Sempre me baseio no que os alunos comentam e gosto cada vez mais do repertório dos jogos”.

A semelhança mais aparente é a encontrada entre o formato do controle que imita a guitarra real. Os jogadores em geral têm opiniões diversas a respeito da facilidade de se jogar com um ou outro. Acredito que o controle convencional tenha sido construído para ser o mais adequado a qualquer jogo e não seria diferente com o Guitar Hero e, entre tocar uma guitarra real e “tocar” a guitarra-controle, não acredito que haja semelhanças relevantes a ponto de uma influenciar a outra. Porém, o jogo guarda analogias à prática musical que não são tão aparentes.

Como professor de música, posso afirmar que o aluno que possui uma vivência musical mais freqüente, seja ouvindo, dançando ou cantando, possui também maior facilidade de assimilar o conteúdo trabalhado em aula, principalmente na prática. Se compararmos essa informação com o videogame, verificaremos uma diferença que faz única essa nova experiência: a interação. Além de poder ouvir, cantar ou dançar, o jogador é agora parte do grupo e tem responsabilidade sobre o resultado sonoro da música. Ele, então, precisa desenvolver habilidades tais como a percepção melódica, rítmica e harmônica para poder se sobressair e conseguir uma maior pontuação.

Sobre a experiência com os alunos, Márcio diz: “O que pude reparar é que eles melhoraram o ritmo, entendem como fazer um solo com grande quantidade de notas em passagens difíceis e o mais importante, eles querem tocar guitarra de verdade e não só no jogo”. E sobre o jogo ajudar ou atrapalhar os estudos musicais, acrescenta: “Sempre pode ser arriscado [utilizar o jogo para fins educacionais], mas no caso do aprendizado musical eu sempre tento criar brincadeiras para ensinar com mais naturalidade e motivação. O videogame já está na vida de todos e pode ser uma grande ajuda se esse tempo for bem aproveitado”. Fica claro que estamos tratando a atividade ao videogame como uma atividade lúdica. Porém, ao invés de separar o momento de brincar e o momento de estudar, pode-se pensar estratégias que unam esses momentos, tornando o estudar mais divertido e o brincar mais instrutivo.

Para complementar a discussão, deixe o comentário de sua experiência pessoal, opinião, crítica. O espaço está aberto para que o tema seja melhor aproveitado.

__________

* Contribuiu para esta postagem: Márcio Sanches, professor de guitarra há mais de dez anos, já foi destaque do mês da Guitar Player e fez parte do segundo Guitar Player Festival, sendo convidado a tocar no EMT e Souza Lima. Iniciou uma banda tributo ao Queen com apoio total da gravadora EMI e reconhecimento pessoal de Brian May. Para saber mais a respeito do guitarrista visite seu site oficial.

5 comentários:

Alexandre Maravalhas disse...

Bem interessante e melhor ainda com o depoimento do Márcio. Mas eu sempre tive pra mim, empiricamente, que a prática dos jogos eletrônicos trazem algum benefício educacional, lógico, cultural ou motor, enfim. Esse caso não é diferente, muito pelo contrário, é um belo exemplo disso.

Ontem mesmo tinha um "tiozão" (como se eu fosse pós-adolescente mesmo!) jogando entusiasmado Guitar Hero no shopping. Sua família estava ao redor e tal. Do lado desta bancada, no Dance Dance Revoluion, duas moças: uma detonando o jogo, já em fase mais avançada; enquanto a outra, mal conseguia dar os passos. Seja como for, parei pra ver (elas, claro, não o tiozão haha) e era pai, mãe, irmão, gente olhando, uma galera.

Além de nitidamente oferecer algum grau de envolvimento com as atividades em questão (música, ritmo, movimento, precisão etc.), é bacana ver como estes jogos reunem as pessoas também.

Claro que estes são quase excessão, em termos de entretenimento eletrônico; a outra maioria, infelizmente, concentra os comandos em joysticks mesmo. Questão de tempo, acho, pra que os atuais controles, ainda nos moldes antigos, evoluam pra aparatos mais diversificados, nos assuntos musicais e nos outros também!

Unknown disse...

"Mas eu sempre tive pra mim, empiricamente, que a prática dos jogos eletrônicos trazem algum benefício educacional, lógico, cultural ou motor, enfim."

Isso mesmo. Claro que não daria pra falar de tudo quanto é jogo significante para a área educacional. A lista seria interminável. Mas alguns vão entrando em tantas especificidades que surgem assuntos como: "Eu me dou tão bem no Guitar Hero, será que dá pra tocar guitarra?". O que acaba estabelecendo naturalmente uma conexão tão específica.

Já a questão da sociabilização é outra que vai estar nas próximas postagens. Dividi pra não ficar tão grande.

Agora, imagina jogar zelda com um joystick no formato da espada. Acho que ainda não existe...

Alexandre Maravalhas disse...

Ué, André. Mas no Wii já existe até a espada e o escudo do Zelda pra encaixar no controle e jogar gestualmente. Claro que eles não são o *próprio* controle, mas servem mais como auxílio na imersão no jogo, ou seja, é possível jogar sem eles. Mas acredito também que estas extensões tenham uma função utilitária também, que é a de se adequar melhor como ferramenta, melhorar a empunhadura, oferecer um equilíbrio melhor dentro da atuação de cada peça, não sei se fui claro.

Não sei se era disso que você falava, mas se não for, é algo primitivo (e prático) ainda pra se ter, digo, no mesmo controle, a possibilidade de várias formas de uso.

É o avanço que a Nintendo trouxe aí pra esses tempos. A partir disso, com o campo aberto, com certeza o mercado vai seguir daí pra frente, humanizando os controles, ou pelo menos tendo esta como uma possibilidade.

Unknown disse...

Huuumm... Então existe... Pois é. Eu dei uma busca rápida no google e não vi nada e então deixei um "acho". =)

Mas eu entendi o que você disse sim. E essa imersão ficaria mais acentuada ainda se o peso e tamanho da "guitarra-controle" fosse mais compatível com a guitarra real, no caso do Guitar Hero. Mas daí acho que entraria um certo conflito do "jogo vs. realidade", pois não sei até quando seria divertido empunhar um objeto tão pesado...

Raphael de Almeida Müller disse...

Fala André!
Ja concordava com sua visao do Guitar Hero em relacao a pratica da guitarra real nas mensagens trocadas no yahoogroups e continuo concordando depois dessa materia. :)
Legal a entrevista com o Marcio, parabens!

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