sábado, 6 de setembro de 2008

Games instalações

Imagine-se diante de uma grande tela na qual é projetada sua própria silhueta captada por uma câmera de vídeo. Agora atente para os objetos gráficos em movimento que passam a integrar essa imagem; são figuras geométricas simples com as quais seu avatar/sombra terá de interagir, ora evitando-os como obstáculos (se não quiser ser eliminado, claro!), ora fazendo deles seu alvo para pontuação.

A idéia é sedutoramente ingênua e repete o sucesso que vêm fazendo alguns jogos do Nintendo Wii, cujo alto grau de imersão é conseguido não com gráficos requintados, mas com o que apelidarei aqui de 'interatividade total': não bastam olhos e mãos, todo o corpo é requerido.

A descrição acima é do jogo instalação Full Body Games – dos artistas Jonah Warren e Steven Sanborn, dos EUA – e assinala uma tendência apresentada na exposição File 2008, com seus vários ambientes imersivos interativos.

Mas, se no caso dos artistas americanos o lúdico se dá pela utilização do corpo como interface móvel dentro do sistema, em Level Head – do espanhol Julian Oliver – essa relação é bem mais sutil e voltamos as atenções novamente para as mãos. Movimentando cubos previamente preparados com códigos que, transpostos pelo programa via webcam, nos permite visualizar um espaço virtual navegável. Nesta instalação vemos nossas mãos projetadas na tela manipulando os cubos, mas dentro deles, na projeção, um surpreendente ambiente que reproduz lofts, com escadas e portas por onde o avatar – um "homenzinho" – deve caminhar e encontrar saídas, estimulado pela "gravidade" imposta a ele ao se inclinar o cubo. Nesta obra, a idéia de labirinto associada à delicada missão de manejar os lofts, transforma cubos em joysticks.

E qual seria a novidade? Talvez a novidade maior seja o reconhecimento dos games como arte complexa e legítima representante dos anseios contemporâneos.

No mundo das artes não é recente a criação de instalações (espaços especialmente preparados para imersão) nas quais o público interage com elementos da obra. O que vem mudando com a presença de conceitos dos jogos eletrônicos associados às expressões artísticas está, em parte, na imprevisibilidade que as obras podem oferecer. Quais dimensões tomarão nossas decisões quando aceitamos interagir? Por mais que se conheça a intenção do jogo, é sempre instigante saltar, abaixar, desviar... ou conter-se, na tentativa de dar direção ao seu personagem e, assim, alcançar outras fases tanto no jogo quanto na fruição estética.

9 comentários:

Lucas Haeser disse...

Muito bacana Roberta!

Vale lembrar que os dois conceitos já estão disponíveis comercialmente no PS3. O conceito de usar o corpo todo para jogar aparece em Trials of Topoq, e o reconhecimento de códigos (de Level Head) aparece no jogo Eye of Judgement de um jeito ainda mais interessante.

Alexandre Maravalhas disse...

Parabéns, Roberta, pela recém publicação da primeira postagem! Bem-vinda ao nosso blog, muito obrigado por ter aceito o convite e tomara que se divirta, que goste e que seja produtiva a estada e também que o pessoal goste dos textos, como eu acho que vai gostar.

Ah, Lucas, no Playstation 3 pode até ter Trials of Topoq, mas dançar na galeria de arte, com os visitantes de platéia, "não tem preço"! (risos)

Fiquei curioso com esse cubinho aí. Lembro de algo parecido, onde você manipulava um cubinho sobre uma mesa sensível ao toque, tentando sustentar um bonequinho, acho que pra conduzí-lo a determinado lugar da tela, meio como funciona o Lemmings. Parece curioso, essa mistura, meio virtual, meio real...

Abraços!

Unknown disse...

Humm. No Senac ano passado, onde conheci o Lucas e o Raphael, tinha um pessoal jogando algo parecido com esse primeiro que você citou. Mas acho que não eram as sombras que apareciam. Aparecia a imagem da pessoa mesmo, filmada.

Agora uma coisa engraçada. hehehe

Você diz:
"E qual seria a novidade? Talvez a novidade maior seja o reconhecimento dos games como arte complexa e legítima representante dos anseios contemporâneos."

Não quero transferir pra esses comentários toda aquela conversa de videogames e arte, mesmo porque nem foi o assunto da sua postagem. Mas o "engraçado" é como a simples inclusão da palavra "arte" em uma frase tende a provocar reflexões, dúvidas, e dependendo de quem estiver lendo, até indignações. Olha a diferença se fosse:

"E qual seria a novidade? Talvez a novidade maior seja o reconhecimento dos games como complexos e legítimos representantes dos anseios contemporâneos."

Sem aquela palavrinha complicada o parágrafo poderia até passar batida pelo leitor distraído. :D

Lucas Haeser disse...

Era esse Alexo?

http://hipergame.blogspot.com/2007/04/roy-block.html

Alexandre Maravalhas disse...

Ah, esse mesmo, Luc. Pô, estava no teu blog o tempo todo! Foi lá que eu vi, mesmo; não lembrava mais. Falei do Lemmings, né? Pensa que legal um Lemmings com interatividade manual, assim, que Tamagoshi legal seria! rss Abraço.

Alexandre Maravalhas disse...

Engraçado como eu vejo essa primeira foto e a comparo historicamente com o Pong! Daqui alguns anos, podemos tê-las nos livros de jogos antigos, nos dizendo "nossa, olha como se interagia antigamente com os jogos!" da mesma forma como achamos pouco os recursos do primeiro videogame (risos). Será que os tímidos e os de fraca expressão corporal vão conseguir jogar direito os jogos de interação de corpo total? (mais risos!)

Glauco ma non troppo disse...

Paguei um pow. Não paguei -- pagaria.


Et in robaerta robaertorum.

Amen.

Alexandre Maravalhas disse...

Pelo vídeo fica bem fácil entender. Olha que legal!

http://www.youtube.com/watch?v=5ks1u0A8xdU

Anônimo disse...

Além de descrever bem o filé, ainda ficou saborosamente poético...

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