sábado, 4 de outubro de 2008

Video Games Live 2008: Curitiba

A edição é 2008 e a cidade é Curitiba que, pela primeira vez, recebe o VGL. O evento tem o patrocínio da Petrobras, a participação da Orquestra Simphonica Villa-Lobos, que também visitou Brasília e Rio de Janeiro, na turnê América do Sul/Brasil deste ano.

Para quem não conhece os detalhes sobre o Video Games Live, sugiro voltar na linha de tempo das postagens deste blog, usando alguns atalhos de navegação ou acessando diretamente os textos pela busca. Resumidamente, trata-se de um evento musical, multifacetado e interativo. Mistura orquestra sinfônica e coral, bateria, guitarra e efeitos especiais. No palco acontecem intervenções como performances de atores, cosplayers e convidados da platéia, e há o uso intensivo de projeção de imagens, como vídeos sincronizados com a música. Criado por Tommy Talarico (apresentador) e Jack Wall (maestro), tem a intenção de mostrar a músical de jogos eletrônicos como forma de arte e como valor presente em nossa cultura.

A apresentação em Curitiba aconteceu no Teatro Positivo – Grande Auditório, dia 2 de outubro, uma bela quinta-feira, com início previsto para 21h. Mesmo com lugares marcados e ingresso garantido dias antes (foto), cheguei com folga de horário, o que foi útil pra perambular pelo o teatro, que ainda não conhecia. Mais cedo que isso, por exemplo, aconteceram mini-torneios de Guitar Hero e Speed Racer.

Engraçado como o palco do teatro Positivo parece menor que o esperado – mas que, afinal, é similar à métrica do Guairão (boca de cena e profundidade) – talvez pelo desenho circular que as linhas de poltronas da platéia formam ao seu redor, criando este visual afunilado. A formação da sinfônica tinha um número reduzido de integrantes e não consegui identificar sopro ou metais, muito embora a visão na terceira fileira, onde estava (poltrona 10), era prejudicada para aqueles elementos mais ao fundo do palco. Dali, por exemplo, se podia apenas ver dois ou três integrantes do coral, que ficou todo bem escondido. A legenda de alguns vídeos também era parcialmente coberta pelo casal de contra-baixistas.



Seja como for, me ficou a sensação de que os integrantes da sinfônica estavam juntos demais entre si, talvez para abrigar a percussão extra (que estava do lado oposto aos tímpanos), mas também para dar espaço para as outras intervenções, seja as interações eletrônicas com a platéia, seja para dar vazão ao estilo extrovertido de Tallarico, especialmente quando faz solos de guitarra.

Primeiro ato

Logo antes do início, o telão rodou o clipe Yuri The Only One (Leet Street Boys), dirigido por Matthew Myers, com música de Final Fantasy e personagens como Yuna (Final Fantasy), Zelda (The Legend of Zelda) e Chi (do mangá Chobits) no traço de anime.



Já com os integrantes da orquestra posicionados, a apresentação começou (pontualmente) com um "aquecimento": a escolha pelo público do melhor cosplay do dia (Mario). Logo em seguida, o maestro Jack Wall (músicas de Jade Empire, Dungeon Seage II, Unreal II) abre oficialmente o VGL com a com apresentação de vários jogos clássicos, talvez o momento mais nostálgico do show, especialmente pelas imagens, já que nem todos eles têm trilha original.

Entra Tommy Talarico (músicas de Cool Spot, Earthworm Jim, Metroid Prime, Advent Rising) para o discurso inicial que apresenta o evento, sobre seu sonho em percorrer o mundo mostrando a todos quão artístico, representativo e cultural é a expressão musical dentro dos videogames. Tommy não poupa elogios para às turnês que fez ao Brasil e acho que, ao final, o público curitibano fez seu papel, se envolvendo e interagindo com os artistas.



Algumas peças musicais tiveram introdução em forma de vídeo com seus relativos artistas, como Hideo Kojima, Koji Kondo e Yuji Naka. Acredito que este tipo de material merecia legendas em português, seja para respeitar a audiência local ou para valorizar o conteúdo mostrado. No mínimo legendas em inglês, obrigatoriamente. Foram executados o tradicional Metal Gear, com intervenção de um artista no palco. Depois a grandiosa trilha do God of War, com o coro ganhando a participação especial de um solista, à frente no palco. O coral, como já disse, ficou escondido demais: mereciam um tablado ou alguma outra solução que valorizasse este elemento tão impactante nas músicas.

Nas interações com o público, Tommy pede um "voluntário" para tentar uma partida de Space Invaders, onde o controle da navezinha deve ser feito pelo movimento do próprio sujeito de um lado pro outro no palco, captados por sensor. Ao "fundo", a orquestra fazia o papel de aumentar a pressão psicológica, executando as notas nervosas do game. O cabeludo Rafael perdeu a partida e o prêmio, mas levou a fama.

Um "momento família", com a emotiva apresentação da trilha e vídeos de Harry Potter. Sonic ganhou um clipe mostrando no telão muitos dos jogos da franquia da Sega.



Michael Gluck, também conhecido por Piano Squall, demonstrou simpatia, habilidade nos teclados e também solidariedade: os fundos arrecadados nas suas apresentações e CDs são doados para entidades carentes. Michael teve a ajuda da projeção da imagem de sua performance no telão. Mas, na minha opinião, foi prejudicado por alguns membros mais entusiasmados da platéia que insistiam em fazer manifestações individuais, quando o momento já era de apreciar a música.

Não é à toa que o VGL conta com som amplificado, diferentemente de uma apresentação erudita convencional, que usa apenas da acústica. Os próprios apresentadores convidam e instigam a platéia a se manifestar a qualquer momento que assim deseje, assim como vale na ópera. (Há, no entanto, aqueles músicos que detestam palmas acompanhando sua apresentação; uma, não se ouve nada; outra, a platéia sempre sai do ritmo...) Por estar mais acostumado aos concertos mais formais, em alguns momentos me senti um pouco constrangido para com os artistas no palco, por um excesso de ruídos e brincadeiras da platéia, que, de certa forma, estava experimentando, talvez, em alguns casos, a primeira vez em um concerto instrumental do gênero do VGL, que mistura o tradicional com a inovação, mas que essencialmente pretente puxar boa parte da "sardinha" para a sinfonia, como bem está dito no encarte do CD oficial:

"Aside from opening the eyes of non-gamers to our industry, our goal is to help usher in a whole new generation of people to appreciate symphony music".

Tallarico volta ao palco para falar sobre a sinfônica de Villa-Lobos, sobre Mess Effect, sobre a competição de Guitar Hero e sobre como ele e seu parceiro de VGL, Jack Wall, selecionam as músicas, focando em pesquisa com pessoas do país em questão. Segue com a execução da trilha inédita no Brasil: Metroid, também com vídeos de várias versões da série.

Segundo ato

Após intervalo de 20 minutos, retornamos ao show com novo momento de interatividade: dois vencedores do concurso de Speed Racer (Wii) vêm ao palco competir juntos uma partida do game. Camila não levou o prêmio, mas ganhou o elogio: "Why are all the women in Brazil beatiful? Everyone! It's unbelieveable.", brincava Tommy, que também tirou uma casquinha das belas modelos, que vieram entregar o prêmio no palco.

Pudemos conferir "na pele" a execução do belíssimo tema de Kingdom Hearts, com iluminação especial, mas novamente sem imagens do jogo, pelo que sei, não disponibilizadas pela produtora para o evento. Segue com tema de Crysis, enquanto eram projetadas imagens em alta definição do jogo no telão, mostrando seus dotes visuais e conceituais. Depois vem World of Warcraft, comemorando seus 10 anos e, pela primeira vez no Video Games Live, magnífico tema de Diablo.

Um segundo momento, mais roqueiro, vem à tona. E daqui adiante, o show só vai crescer em ritmo até seu final. Começa com o vencedor do torneio de Guitar Hero (Playstation 2) vindo ao palco e "contracenando" com o próprio Tommy Tallarico, que juntos – um interagindo no jogo com a guitarra-joystick e outro com o instrumento real – tocaram Sweet Emotions, do Aerosmith. Continua com Tommy na guitarra, juntamente com a Villa-Lobos, executando os fantásticos temas de Halo e Halo 3. Apresentadores e platéia, aos gritos, anunciam juntos o aclamado tema One Winged Angel, de Final Fantasy VII. E fechando a apresentação com chave clássica de ouro, no auge da noite, os temas de Castlevania.



Extras

A lojinha do VGL estava vendendo um livreto com fotos e informações sobre o evento, camisetas e os discos do Piano Squall e o primeiro álbum oficial do show. Quero recomendar este último, que considero imperdível, seja para quem não pôde ainda ir a uma das apresentações, quanto para quem já foi. Em qualquer situação, este será um excelente disco para apreciar ou um belo souvenir, especialmente se autografado pelos três artistas – Tommy, Jack e Michael – que estrelaram o dia (foto).

O disco, com 11 faixas (abaixo) e quase uma hora de música, traz no encarte uma apresentação do que é o VGL, fotos do show, mini-biografias dos criadores e anfitriões Tallarico, Wall e do convidado Martin Leung (Video Game Pianist), que tem participações marcantes em outras datas do espetáculo. O excelente repertório do álbum é um belo exemplo da qualidade proposta no Video Games Live, tirando, claro, a vibração do momento, que é um sentimento único e pessoal, impossível de inserir num CD.

As faixas do volume um são: 1. Kingdom Hearts / 2. Warcraft Suite / 3. Myst Medley / 4. Medal of Honor (Live) / 5. Civilization IV Medley / 6. Tetris Piano Opus No. 1 / 7. God of War Montage (Live) / 8. Advent Rising Suite / 9. Tron Montage / 10. Halo Suite / 11. Castlevania Rock (Live). Destaco, entre as músicas da minha preferência, o espetacular medley de Civilization IV e seus cantos africanos, as Warcraft Suite e Myst Medley, com seus corais espetaculares e Medal of Honor, pelo seu lirismo que soa melancólico na temática de guerra.

Concluindo, o Video Games Live é um evento diferenciado, que mescla vários tipos de shows e que, com certeza, em menor ou maior grau, irá agradar a muitos, seja o amante de música – do amador ao profissional –, a qualquer integrante da família que já teve algum contato com jogos eletrônicos, ou seja, hoje em dia acessível a qualquer um, ou àquela pessoa que tem curiosidade em ver como esta expressão artística pode ser representada em um show e como ela influencia a cultura da sociedade moderna.

Não sei por qual motivo exatamente, talvez pelo porte do teatro – questão para deixar no ar –, mas a sensação de que o show, aqui em Curitiba (não fui aos outros nacionais, portanto não tenho a referência), teve uma proporção um pouco reduzida de seu 100% potencial, seja na formação da orquestra, que poderia ter maior presença; na falta de um piano acústico, que por si, já é um objeto imponente; do coral, que tem importante participação neste formato de apresentação e merecia estar num plano mais evidente.

A divulgação local me pareceu pouca, mas tendo visto o teatro com ótima lotação, vemos que o VGL já tem bastante prestígio e fãs pelo mundo afora e que, assim, faz o boca-a-boca muito bem. Parabéns aos seus idealizadores, artistas convidados, equipe técnica e, principalmente, aos compositores da cena da música de videogame!

9 comentários:

Christiano disse...

Excelente matéria, Alexo.
No aspecto técnico, também achei que o VGL não foi tudo que podia ser. Nas apresentações em SP, tive a impressão de uma orquestra maior e melhor distribuição dos elemntos no palco, além de mais telões, o que possibilitava uma melhor visualização dos videos pela platéia. Mas isso tudo é decorrente do local da apresentação. Será que no Guairão não seria melhor?
O que achei muito mais legal do que em SP foi a interação do público com o show. Em alguns momentos dava a impressão que quem conduzia o espetáculo era o povão e não o Tallarico. Mas talvez isso também seja efeito do teatro menor.
No fim das contas, adorei o show. A orquesta, apesar de reduzida, cumpriu muito bem o seu papel, e o público colaborou muito para que o show se tornasse inesquecível.

Lucas Haeser disse...

Bela cobertura Alexo. Engraçado que eu pensei que um lugar menor tornaria a apresentação mais íntimista e mais interessante, pelo visto me enganei.

Alexandre Maravalhas disse...

Chris,
na verdade, pelo que andei pesquisando, o tamanho dos dois teatros é similiar, como disse no texto. Então, não sei. Precisaríamos de algum especialista em artes cênicas ou algo do gênero pra opinar pra gente o que poderia ser melhorado nesse sentido, pois, por exemplo, o Guairão comporta tranqüilamente sinfônicas completas, com grande coral, enfim. Pensa o poder de um VGL com uma grande sinfônica, com um grande coral com destaque! Praticamente não precisa amiplificar o som, o que me remete ao próximo comentário.

Lucas,
não acho que o VGL se preste a este formato de show, intimista. Eu acharia fabuloso, mas a proposta ali, realmente é extravasar, romper as tradições, fazer a platéia ir ao delírio, especialmente se dirigindo ao final da apresentação. Eu senti que, por mais que este seja uma apresentação erudita, neste espetáculo pelo menos, a sensação ficou dividida. Só o fato de termos imagens no telão é um elemento a mais para distrair da música, que nos formatos tradicionais é voltada 100% aos músicos, à execução, à melodia fundalmentalmente. O VGL é mais multimídia.

Ila Fox disse...

Nossa, achei ótimo seu review! até me senti lá dentro! pena que não deu para eu ir!
Aqui não tenho banda larga para ver os videos e tal... mas quem sabe daqui uns anos eu assista um VGL ao vivo né? ;-)

Diego CS disse...

Não posso iniciar este comentário sem antes parabenizar nosso amigo Alexo pela excelente cobertura do evento. Infelizmente, quando os primeiros boatos sobre o Video Game Live foram divulgados pela revista EGM Brasil, Belo Horizonte havia sido citada como cidade para sediar o evento e isso não ocorreu. E tua cobertura, Alexo, me estimula a encarar uma viagem para curtir o VGL em outro estado, apesar de acreditar que o evento passe por BH em 2009 com o SBGames destacando a capital mineira para a iniciativa.

Rapaz, estava lendo tua cobetura e imaginando esse evento no Palácio das Artes e com a Orquestra Sinfônica do Palácio. Seria impressionante!

Destaco o comentário do Alexo sobre a proposta do evento, pois apesar de ser um concerto orquestrado, ele não pode se limitar as tradicionais convenções das apresentações de orquestras, sendo um evento que necessita de interações constantes com público e essenciais estímulos visuais, como o universo dos games nos proporcionam. Lembro, que nos primóridos do VGL, houve uma apresentação do tema de World of Warfract onde o coro estava vestindo de mantos negro. Imagina isso!

Unknown disse...

Nem tenho o que dizer do VGL. Como você diz, Alexo, é algo que só dá pra sentir estando lá. Sempre falo isso pro pessoal. Legal o seu texto também, pela apresentação deles ano passado que pude ver, você soube descrever muito bem.

Eu também acho que entendo o que você diz sobre o VGL não ser tudo o que podia. Em Brasília também tive essa impressão, porque sempre lia a respeito do show em outros lugares. E onde fui o palco era bem grande e talz e mesmo assim não pareceu tão bem organizado a ponto de ser tudo aquilo que eu tinha lido e visto em alguns outros vídeos. Mas nada que pudesse comprometer a grandeza do espetáculo.

Que bom que você não se arriscou a se arrepender por não ter ido.

Roberta Fialho disse...

Banzai!!!
Já diria nossa deusa preferida!! Deu vontade de estar lá também...Gosto muito da idéia de espetáculos com essa dinâmica (arriscada!) de intervenções, com imagens sincronizadas, humor! Ótima cobertura , Alexo! A gente, que não pôde ir, se deleita um pouco também.

K disse...

Parabéns pela matéria, Alexo!! Adorei! ^^ Que bom que no final das contas você foi!

É, esse ano, foi realmente uma pena não ter vindo pra cá pra sampa =/ Não me conformei até agora. Ano passado eu não curti muito, achei mais do mesmo... mas o primeiro ano foi sensacional pra mim. Fico feliz por terem tido várias novidades pra quem foi este ano. Mas é como o André disse mesmo, só estando lá pra sentir. No de 2006, eu saí rouca de tanto berrar 8D (comemorando as músicas que eram anunciadas) e dar risada das maluquices no palco, heheh.. foi no dia do meu aniversário, então foi um ótimo presente x) Esse ano eu fiquei bem frustrada. Bom seria também se a gente tivesse outros concertos do tipo por aqui, umas coisas um pouco mais diferentes =) Quem sabe pro futuro, né?

bjãoo!

Alexandre Maravalhas disse...

Ila,
então a idéia era não esgotar o assunto do show, no texto. Bem, nem conseguiria. Mesmo os vídeos, que bombaram no You Tube eu não fiz questão de incluir, até porque acho que algumas pessoas podem não querer meio que estragar surpresa do momento. Nunca entendi aquelas pessoas que lêem no jornal o que vai acontecer nas novejas... Boa parte da emoção de um show é ser surpreendido. Então, pra quem quer ir um dia ao VGL, sugiro não ir com tanta fome aos vídeos do You Tube.

Diego,
é verdade. Acho que é bem viável o show ir pra suas bandas também. Mas, se você pode fazer uma viagem, de repente juntar com outras atividades, também vale.

André,
só o evento estar vindo ao Brasil com essa constância, acho muito válido. Mas pode ser sim, que a produção fique um pouco aquém fora dos EUA, que provavelmente ali, o show dá o seu melhor.

Roberta,
verdade, arriscado. Mas no VGL, elas couberam bem, pelo humor. Aliás, foram poucas até. Achei que seriam mais.

Karen,
nossa, VGL no níver? Ah, deixa respingar um pouco de cultura aqui pra gente também, né! Tudo vai pra SP, muitas coisas acabam não vindo pra cidades próximas, embora exista público para tal. Deram uma folga de SP essa vez e acho que foi ótimo diversificar. Seja como for, VGL é tido como um show que não se recomenda ir todo ano; acho que o repertório é um pouco estático pra isso, exceto se você não tiver com as contas apertadas, né? rs É, meu desodorante deu uma vencida no show, e olha que eu sou quieto, hein! rs

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