O design e a arte de "Street Fighter IV - Training Manual"
Eu tinha guardado esse assunto já há algum tempo, quando o vi em uma postagem do Claudio Prandoni, do Hadouken. Como nosso objetivo não é noticioso, mas principalmente porque o trabalho é de excelência, reapresento aqui na "Benza", em outras palavras. Trata-se do Street Fighter IV - Training Manual, disponibilizado pela Capcom.
O livro é apresentada no formato 21 x 27 cm, com 22 páginas, e foi inicialmente distribuído restritamente a profissionais de comunicação, sendo posteriormente liberado uma versão eletrônica – em formato PDF – para download público no site da Capcom (link no final do texto). Como apenas tive acesso à versão eletrônica do material, infelizmente, não posso comentar a produção impressa, mas se porventura você tiver algum detalhe pra nos passar, deixe nos comentários.
Em linhas gerais, o trabalho de design e principalmente de ilustração é magnífico. A direção de arte deixa muito claro que a publicação deve ter uma linguagem visual fortemente dinâmica. Os logotipos do jogo, que constam já na primeira e segunda capa, nos preparam para todo esse movimento, determinando expressivamente essa linha visual.
A ilustração é o elemento chave na obra. E obviamente, a imagem da capa conta com a quantidade de energia visual compatível com todo o restante da diagramação. O traço é gestual, pincelados pontualmente com borrões que nos fazem percorrer o olhar a todo o momento. Repare a dinâmica de forças na composição da página, especificamente no confronto entre os dois personagens. Enquanto Ryu (de branco) está mais acima e inicia o combate com um ataque em princípio mais ativo, Ken (à direita) o enfrenta com o peso visual do vermelho, também sustentado pelas informações textuais em sua base, oferecendo essa sinergia que se alterna pela página.
A capa é um belo exemplo de composição dinamizada, mas como disse, ela apenas dá indícios das páginas que ainda virão. Neste Training Manual tudo está em movimento. Cada figura, cada elemento é composto ricamente, de forma que podemos apreciar uma página por muito tempo, em busca de todos os detalhes. Mesmo informação tradicionalmente rígidas como os boxes (caixas com dados objetivos) são formatados em busca de torná-lo mais sinuoso, fazendo uso de bordas e cores.
Mesmo sendo uma publicação predominantemente visual – principalmente no aspecto de proporcionar um vislumbre na composição das páginas – existe um conteúdo textual de volume mediano, o que poderia contrariar a ideia de algumas pessoas, ainda em se falando de, ao mesmo tempo, um livro técnico e de arte para um game de luta. Temos, após a introdução, uma entrevista com Seth Killian, "community manager" da Capcom, a apresentação dos modos de jogo, a história do Street Fighter, seguindo com as características de cada personagem, seus golpes e movimentos e, ao final, apresentação de alguns produtos relativos ao universo do game.
Esse volume de texto e de páginas, porém, não torna necessário um sistema mais detalhado de navegação – aqueles elementos de design que ajudam o leitor a se situar dentro da publicação – que consiste basicamente em um sumário e obviamente (discreta) numeração de páginas. No design de informação, existem apenas dois níveis de títulos e o bloco de texto corrido em si, além das tabelas de comandos, que ganham alguns ícones próprios para facilitar seu entendimento. Essa aparente simplicidade na organização do conteúdo textual colabora com a valorização efetiva da arte visual.
Os blocos de texto corrido foram inseridos cuidadosamente sobre áreas que, mesmo quando mixadas com ilustrações, estão bem contrastantes, afugentando o péssimo hábito de algumas publicações em sobrepor volumes maiores de texto sobre imagens, prejudicando sua leitura. Estes elementos de suporte às colunas de texto também foram ornadas com grafismos orgânicos.
Aliás, é muito bacana como todas as páginas e ilustrações se harmonizam à linguagem gráfica do todo, principalmente no tocante ao movimento das composições. Mesmo os títulos – aplicados em caixa alta na fonte Save By Zero – ganham dinâmica pelo uso de degradês simples. Sobre o projeto de design gráfico, criticaria a inexistência de um grid† de colunas de texto mais consistente e a escolha da fonte para o texto corrido, a já tão desgastada Arial.
Voltando às ilustrações, que realmente são o foco da publicação, elas foram compostas em muitas camadas nas páginas. Há uma série de sobreposições, algumas complicadas, que no final dão um resultado harmônico na página: as figuras, grafismos e texto dividem e dinamizam as páginas lindamente e eu destacaria o esforço em trazer o elemento orgânico por meio de vívidas pinceladas gestuais e que, afinal, faz toda correlação com o jogo.
A qualidade dos desenhos é a melhor possível, dentro deste estilo, e mais: a imprevisibilidade e até um certo tom caótico não se torna excessivo, tampouco soa desleixado. Há ali a difícil tarefa do artista em demonstrar um enorme despojamento em algumas pinceladas, sem que isso torne o resultado aleatório ou indefinido.
Infelizmente não encontrei nenhum crédito para nominar algum dos profissionais envolvidos. Novamente, ficam abertos os comentários para qualquer acréscimo. Segue mais algumas imagens que selecionei para miniaturas.
Seja você um jogador das antigas de Street Fighter – nem é meu caso! –, um curioso acerca dos jogos de luta – virtuais ou convencionais –, mas principalmente alguém que reconheça um ótimo trabalho de arte visual, com certeza vai apreciar cada página desta bela publicação que o mundo dos jogos eletrônicos nos presenteou.
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