The Doom 2 - Variations: um tributo a Bobby Prince
Variations é o título desta releitura de Doom II, criada pela "banda" Dimaension X para homenagear Bobby Prince, autor da composição da trilha original. O nome artístico de Dimaension X foi criado em 1991 e é formada pelo "one band man" Dave Lanciani (45 anos, Massachusets, EUA), artista instrumental, destacando-se na guitarra, baixo, percussão, teclados, além dos outros instrumentos sintéticos que programa, para atuar – segundo o próprio – nas mesclas de heavy metal, space rock e jazz-rock.
The Doom 2 - Variations foi finalizado em abril de 2009 e está apresentado em um álbum de 19 faixas, com duração de 1h16' e disponibilizado gratuitamente em 107 MB de arquivos MP3. Você pode acessar aqui a postagem oficial do blog do autor, onde terá acesso aos seus outros vários canais virtuais e também conhecer mais do seu trabalho em outros vários álbuns produzidos.
Falando um pouco sobre a "obra" original – Doom, um cult dos videogames – é um marco na indústria. Acredito que muito do seu mérito venha do inovador aspecto tridimensional do seu universo "concreto" (por vezes pseudotridimensional). E essa característica transpassa o tecnicismo para levar ao jogador uma sensação de estar inserido numa ambientação realista, multinivelar e cheia de possibilidades mecânicas. Por mais simplório que hoje consideremos o visual de Doom, a memória "presencial" de quem jogou efetivamente este produto é de uma arquitetura factível.
A trilha sonora original, no entanto, ao meu ver, sofreu um agravante de viabilidade técnica, e eu posso me incluir nessa experiência. Vejo que alguns apreciadores de games na época de Doom (e jogos subsequentes) o desdenharam por puramente falta de equipamento multimídia adequado. Na época em que o jogo aconteceu por aqui, os IBM-PCs eram computadores essencialmente voltados à práticas comerciais, tornando o jogo menos atrativo a quem se aventurasse nessa limitada configuração.
Assim, uma leva de usuários de PC conheceu um Doom "silencioso", sendo este um argumento possível para que a composição de Bobby Prince tenha sido eclipsada pela estética visual. A trilha sonora (assim como a sonoplastia), quando reproduzida em uma qualidade minimamente mediana, tem absoluto papel de ambientação dentro do jogo, seja criando tensão, energia ou suspense.
Por se tratar de uma trilha baseada no formato MIDI†, vejo hoje essa característica como uma aliada acerca da popularidade de Doom. Porque arquivos MIDI são extramamente pequenos, reproduzíveis facilmente em qualquer sistema – é um formato portável tanto entre plataformas de computador quanto equipamentos de áudio, enfim. Além disso, os arquivos MIDI levam consigo a partitura completa e digital da composição, o que tornar a obra musical muito convidativa à releitura, pelo menos no aspecto de edição de som.
O lado ruim de ter em "mãos" toda a notação eletrônica original é que, por questões práticas, falta de tempo ou mesmo limitações criativas, alguns artistas podem ser levados a produzir, eventualmente, um remix menos personalizado, mantendo as linhas-bases e se restringindo apenas a modificar o timbre de alguns instrumentos.
A respeito disso, Dave me disse que sempre gostou dessa trilha, e acredito que como também muitos de nós, fãs, sentia que as músicas MIDI eram sonoramente limitadas e foi essa a intenção principal: fazer a sua própria "variação" da música original.
E que eu gosto nesta releitura de Doom II é exatamente o que ela faz de diferente da trilha original. Além da maior densidade que Lanciani dá para o clima da obra – podemos notar esse peso já na primeira faixa – o artista mostra a que veio especialmente quando executa seus solos de guitarra! No início da segunda faixa (MAP02 The Healer Stalks), a guitarra aparece discreta, fazendo acompanhamento com os acordes do andamento, mas já trazendo muita organicidade e toques pessoais aqui ou lá, que irão aumentando de expressividade com o passar do tempo. Nos 3' desta, temos outro momento da música, quando podemos finalmente aprecisar todo o virtuosismo da improvisação.
Conforme comentei a respeito da edição do MIDI original, a métrica parece ser muito respeitosa quanto à trilha original, mas novamente a partir do primeiro minuto da faixa MAP03 Countdown to Death, o artista nos premia com um maravilhoso solo de guitarra progressiva, soando com longa reverberação, o que é uma bela viagem e que nos leva assim até o término.
A MAP04 original basicamente trata de ambientar um momento nervoso do jogo. A dinâmica da trilha de Doom é assim: eventualmente há momentos bem distintos, que pontuam funcionalmente as situações (mapas). Na releitura, MAP04 Between Levels, temos uma rica percussão em evidência, conduzida com um baixo poderoso e com eventuais toques de guitarra, que não se contém e aparece solando, completa, desde 1'57" até o final.
Essa faixa, por exemplo, demonstra bem sua expressividade nos dois únicos instrumentos reais tocados pelo artista neste remix: baixo e guitarra. Todo o resto são sons sintetizados, mas Lanciani conta que também gosta de usar uma bateria eletrônica (foto) para marcar os samplers da percussão.
E com essa descrição eu posso seguir com quase todo o álbum: a atmosfera, o acabamento, mas principalmente os fraseamentos improvisados de guitarra dão personalidade e qualidade ao trabalho. Vale citar a modéstia do artista, quando ele se autoavalia em seu blog: "some of the guitar solos may not be all that great", quando é exatamente essa atuação – seus solos – que considero o mais proeminente no trabalho (não conheço seus outros CDs).
No todo, o álbum me deixou com uma certa impressão descendente de qualidade e interesse. (E pode acontecer, não avaliei, que na tracklist† original do jogo aconteca o mesmo.) Gosto tanto mais das primeiras faixas quanto das finais. Nesse aspecto, quando se pega um carona literal nas faixas originais, pode cair no mesmo caminho, o que me faz pensar que o álbum poderia ser um pouco mais enxuto, selecionando as faixas onde o artista teria mais espaço para manifestar seu talento e personalidade, que no meu entender, tem de sobra.
A MAP18 Waiting for Romero to Play, seguindo raciocínio, é de um minimalismo fantástico, mas basicamente trata-se de um revestimento levemente diferente, quase intocada, da original, que leva praticamente todo o mérito. A notação das músicas, então, me soa bem bastante fiel à trilha original, e isso seria uma crítica minha, no sentido de que uma intervenção maior – embora mais arriscada – ganharia em inovação.
No entanto, o que Dimaension X acrescenta de valor musical à maioria das faixas chega tornar a obra muito marcante e, assim, revigorada. E, de certa forma, acho que já se tem previamente essa consciência; o remix não deveria se tratar de uma revolução total, haja visto o título, que tem um toque despretencioso: "variações".
Registro meus parabéns, meu convite a conhecerem o trabalho da Dimaension X – personificado no artista Dave Lanciani – e que venham outros trabalhos relacionado com jogos!
The Doom 2 - Variations - A Tribute to Bobby Prince
01. Inter & MAP01 Running From Evil
02. MAP02 The Healer Stalks
03. MAP03 Countdown to Death
04. MAP04 Between Levels
05. MAP05 Doom
06. MAP06 In the Dark
07. MAP07 Shawns Got the Shotgun
08. MAP08 The Dave D Taylor Blues
09. MAP09 Into Sandys City
10. MAP10 The Demon is Dead
11. MAP18 Waiting for Romero to Play
12. MAP20 Message of the Archvile
13. MAP23 Bye Bye American Pie
14. MAP25 Adrians Asleep
15. MAP28 Getting Too Tense
16. MAP30 Opening To Hell
17. MAP31 Evil Incarnate
18. MAP32 The Ultimate Challenge
19. Endgame
6 comentários:
Parabéns pelo post Alexo! Relembrei das noites na frente do meu 386, com a tela pequena para não travar. :-) Lembro também de jogar em silêncio ou apenas com os bips do PC speaker. Muito mais tarde fui conhecer a trilha que combina perfeitamente com o clima do jogo!
Um abraço,
Fernando
Nem me fale! Eu, idem. Só que quando joguei sério Doom, bem depois, eu conectava via general MIDI o computador no meu meu tecladão Yamaha, ou seja, a música ficava um espetáculo (pena, acho que não tenho nenhuma gravação disso aqui...).
Ante disso, era o silêncio total e os beeps horríveis dos efeitos. 8 ou 80, hein!
Por favor, perdoem a minha tradução do Google. Muito obrigado pela sua análise, Alexo. Aprecio o seu tempo, esforço e honestidade.
Não sei se o fato da trilha de Doom 2 estar disponível originalmente em MIDI influencia em remixes. Na verdade acho que é uma tendência que acontece com todos que se aventuram nessa área, seja tendo a partitura em mãos ou tirando a música "no ouvidão".
Acho que extrapolar para a criação e fazer com que essa entre em tamanha consonância com o original a ponto de parecer ser realmente um original que não foi lançado é uma questão pessoal. Com o tempo e o amadurecimento vejo como natural um artista sentir a necessidade de criar mesmo a partir de algo já existente. Talvez não aconteça com a maioria por não ser a atividade principal de quem está se propondo a fazer esse trabalho. Na maioria das vezes essas bandas não são compostas por músicos profissionais. De forma alguma isso é um problema, mas tenho observado que músicos amadores demoram mais tempo para despertar essa necessidade de criar (ou nunca chegam a despertar, ou despertam apenas em pequeno grau).
Ainda mais porque com as trilhas retiradas de emuladores podemos isolar cada canal de áudio e utilizar um software que faça a leitura das notas para MIDI. E pronto, está quase pronta a partitura com os arranjos originais.
Bom, comentários sobre as músicas não vou fazer porque não baixei ainda. Ficam pra depois que eu ouvir.
@Dave,
obrigado pela visita e pelos comentários (em português)!
@André,
entendi o que você diz a respeito de maturidade versus nível de intervenção na composição original.
Bom, eu comentei sobre a possível "facilidade" em se editar os MIDIs originais, também porque tenho outras remixagens de Doom com menor entrega na recriação do trabalho, aparentando que basicamente se fez apenas substituições dos instrumentos por outros timbres.
O que não é o caso em Doom 2 Variations, haja visto os belos e longos solos que aumentam consideravelmente a métrica das melodias originais, além de encorpá-las e estendê-las artisticamente também.
Agora que já ouvi posso dizer que gostei do álbum. Não conhecia a trilha de Doom e só joguei algumas vezes no PC pra conhecer o jogo.
Gostei dos timbres das guitarras e de como ele trabalhou com os timbres orquestrais dento do estilo que propõe.
Diferente do Alexo, acho que o álbum foi mais feliz nos momentos de menos solos de guitarra. Talvez uma opinião bem subjetiva, mas as últimas faixas me agradaram mais. acho que eu ouviria o álbum de trás pra frente.
Também acho que a faixa 11 (MAP18) foi muito feliz. Não me deixou cansado de ouví-la apesar de repetir do início ao fim. Me lembrou Brinstar, do Super Metroid.
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